Com o intuito de fornecer os conhecimentos básicos a respeito de um tema tão importante no mercado, essa pequena série de artigos irá abordar o conhecimento inicial para investidores que nunca tiveram contato com os derivativos.
Exemplo
Exemplificando um caso simples do uso de um derivativo:
(Todos os valores são meramente didáticos)
Imagine que um cafeicultor investe R$ 1000,00 para preparar uma safra que ficará pronta em um ano. No momento do preparo, o valor da saca de café (60 kg) é de R$100,00 e é esperado que a safra resulte em cem sacas, ou seja:
Lucro = receita – custo
R$ 9000,00 = R$100,00 x 100 (sacas) – R$1000,00
Ao final da produção ele terá R$10.000,00 reais em café e teoricamente R$9000,00 de lucro na safra. Entretanto, o valor da saca de café, assim como diversas outras commodities* não é estático, ele pode variar dependendo de diversos fatores como oferta e demanda, conceito econômico a respeito da precificação de produtos a partir da escassez, ou algum outro produtor pode estar disposto a vender seu café por um valor menor e acabar desvalorizando o preço da saca. Dessa forma, diversos fatores podem influenciar no preço futuro do café e isso não é previsível (lembrando que é justamente o medo da imprevisibilidade que cria a necessidade por derivativos). No momento da plantação o cafeicultor assume esse risco e pode inclusive acabar no prejuízo caso o valor do café caia demais. E é aí que o derivativo pode ser a solução, o cafeicultor pode recorrer ao mercado a termo, por exemplo, e acordar com um comprador o valor exato que ele pretende receber e em que data ele irá entregar as sacas de café. Em alguns casos a liquidação dos contratos pode ser física ou somente financeira, atualmente a maior parte dos contratos tem liquidação financeira e as partes abatem o valor com a operação. Para o cafeicultor a vantagem da operação foi a de garantir o lucro, por mais que talvez o preço do café possa subir e ele terá deixado de ganhar um lucro maior, a possibilidade de não ganhar nada e ainda ficar no prejuízo é muitas vezes mais assustadora para o produtor, portanto, ele prefere recorrer ao mercado de derivativos e fazer o hedge da operação. Para o comprador também há uma vantagem que é a certeza de receber o café que precisa na data e no preço desejado. Sem ter que se preocupar com possíveis flutuações no preço do ativo base (o café).
Hedge em inglês dependendo do contexto tem o significado de cerca ou limite, no mercado financeiro hedge é usado como uma forma de limitar possíveis perdas, mitigar o risco de um investimento. A principal proposta dos derivativos, sejam opções, futuros, mercado a termo e swaps é proteção contra perdas.
Outro uso dado a este mercado, que atrai boa parte dos especuladores, é a possibilidade de ganhar inigualáveis lucros a partir dos derivativos. Seja buscando uma estratégia sazonal, se baseando em expectativas macroeconômicas, etc. Um dos maiores problemas deste mercado para especuladores iniciantes é o uso da alavancagem. Através da alavancagem financeira (do inglês financial leverage), é o uso de recursos emprestados ou outros instrumentos financeiros para aumentar o capital usado na estratégia, por mais sedutor que isso tudo seja, não me aprofundarei a respeito neste artigo, pois a intenção é explicar o básico e apresentar o tema para aqueles que ainda não tem intimidade com o assunto.
“Mas eu não produzo nada e não quero correr o risco da especulação, derivativos são úteis para mim?”
Sim, os derivativos podem ser usados para proteger investidores que estão expostos a índices de ações como o IBOVESPA ou que dependem de moedas estrangeiras (até na hora de comprar dólares ou euros para viagem). Nos próximos artigos tratei exemplos práticos destas situações.
Termos importantes
* Commodities são produtos considerados básicos, globais e não industrializados (matéria-prima), como, por exemplo: petróleo, soja, café, ouro, milho, laranja, carne.